UM PROCESSO DE RECONCILIAÇÃO NACIONAL GENUÍNO E INCLUSIVO COMEÇA DE BAIXO PARA CIMA

    𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 𝐈𝐈𝐈 (Ú𝐋𝐓𝐈𝐌𝐀)

“Presidente Chapo defende a paz, a reconciliação e o diálogo inclusivo como pilares fundamentais para o desenvolvimento de Moçambique”.                                                

Presidência da República de Moçambique em https://presidencia.gov.mz

“Não se pode falar de reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdias”.

Papa Francisco, na sua homilia no último dia da sua visita a Moçambique
Capa do Livro “O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil”

Foto 1: Da esquerda para direita: Julius Nyerere, Alberto  Chipande,  Kenneth Kaunda, Aurélio Manave e Samora Machel no “julgamento de Nachingwea” no Campo Militar  de  Nachingwea.  

Foto 2: Da esquerda para direita: Pintor João Craveirinha, (?ex-seminarista Dr. Paulo Emilio Marqueza), 1o. Comandante de mísseis Pedro Simango; o médico Dr. João Joaquim Unhay; Dr. Arcanjo Faustino Kambeu, secretário da informação do Coremo; e Celina, esposa de Uria Simango e mãe do político Lutero Simango.

Foto 3: Da esquerda para direita: ex-seminarista Dr. Paulo Emilio Marqueza, (?Dr. Basilio Banda),  o o sétimo é o Presidente da UDENAMO, Adelino Gwambe: e a décima pessoa, de óculos, é a líder do GUMO, a Dra. Joana Simeão.

Durante  muitos  anos, enquanto o  Presidente Julius Nyerere da Tanzânia  apoiava o movimento da FRELIMO, o  Presidente  Kenneth  Kaunda da Zâmbia apoiava o Coremo (Comité Revolucionário de Moçambique) que, sob a liderança de Paulo Gumane, havia consolidado sua posição na Zâmbia. No entanto, após a Revolução dos Cravos em  Portugal, o Presidente Nyerere  persuadiu  Kaunda  a  desmantelar  o  Coremo. Em Junho de 1974, as autoridades zambianas invadiram as instalações do Coremo, prenderam todos os líderes e membros proeminentes deste movimento, tendo os entregue à FRELIMO. Em 7 de Setembro de 1974, os Acordos de Lusaka foram assinados em Lusaka, Zâmbia, entre o Governo Português e a FRELIMO, transferindo o poder para este movimento.

Após a formação do Governo de Transição em Moçambique, sob a liderança da FRELIMO, em 20 de Setembro de 1974, em vez de demonstrar ao povo moçambicano que poderia governar o país melhor do que o governo colonial português, a principal preocupação da FRELIMO foi de cercar, prender e deter outros nacionalistas moçambicanos. Em 12 de Abril de 1975, mais de 400 prisioneiros políticos foram desfilados no Campo de Treinamento Militar da FRELIMO em Nachingwea, Tanzânia.

Satisfeitos com o  trabalho  que haviam realizado a fim de facilitar a FRELIMO chegar ao poder, os dois presidentes –Kenneth Kaunda da Zâmbia e Julius Nyerere da Tanzânia – abandonaram os afazeres dos seus países para assistirem esses prisioneiros políticos a serem submetidos à um julgamento cruel e atípico. O  facto  de  que  o  número  desses prisioneiros era consideravelmente alto para serem todos “contrarevolucionários”, não incomodou Nyerere e Kaunda, supostamente conhecidos  como  presidentes  cristãos.  Os dois líderes africanos nem estavam preocupados com o facto de estarem a violar as convenções internacionais ao deterem moçambicanos no solo tanzaniano e submetê-los a um tratamento cruel, enquanto os mesmos não fizeram nenhum mal à Tanzânia  e ao seu povo.  

Os prisioneiros políticos desfilados em Nachingwea foram eventualmente levados para “Centros de Reeducação” em Moçambique. A FRELIMO, inspirada em modelos aplicados por regimes socialistas totalitários, como o “Laogai” Chinês,  o “Gulag”  Soviético,  e os “Campos da Morte” (“Killing Fields”) dos Khmer Rouge no Camboja, criou os chamados  “Centros de Reeducação” que o Presidente Samora Machel designou de “laboratórios da criação do homem novo”.  Catorze  “Centros de Reeducação” foram instalados por todo o país: três em Niassa, três em Cabo Delgado, três na Zambézia, dois em Sofala, dois em Inhambane, e um na Ilha de Xefina em Maputo. 

Milhares de pessoas – políticos e outros moçambicanos, incluindo homens e mulheres, bem como estrangeiros – eram cercadas em suas casas e nas ruas das principais cidades de Moçambique e levadas para esses centros. Segundo O PÚBLICO MAGAZINE de 25 de Junho de 1995,  de um total de 1800 prisioneiros políticos que entraram no “Centro de Reeducação da M’telela” na Província do Niassa, apenas 100 sairam vivos. Os prisioneiros políticos eram mantidos em isolamento – “fechados em celas individuais de onde apenas saiam duas vezes por semana, das oito às onze, para apanhar raios solares”. Segundo a revista, muitas pessoas foram enterradas e queimadas vivas nesses chamados  “Centros de Reeducação”.

Diversas violações dos direitos humanos foram cometidas pela FRELIMO e o seu governo desde os tempos da luta armada até a presente data.

Enquanto tais violações dos direitos humanos não forem devidamente reconhecidas e enquanto a necessidade de uma reconciliação nacional, verdadeiramente genuína e inclusiva, não for respeitada, não haverá paz verdadeira  e duradoura em Moçambique. A evidência comprovada revela que “as feridas vivas causadas durante tantos anos de discórdias”, conforme correctamente destacou o Papa Francisco na sua homilia, no último dia da sua visita a Moçambique,  continuarão a assombrar Moçambique como nação. 

O Presidente da UDENAMO Adelino Gwambe, o Presidente do Coremo Paulo Gumane, o Padre Mateus Pinho Gwenjere, o Vice-Presidente da FRELIMO Uria Simango, Raúl Casal Ribeiro, Lázaro Nkavandame e muitos outros nacionalistas que este autor conheceu, e que foram mortos e já não podem falar por si próprios, foram combatentes genuínos  da luta armada de libertação nacional, devendo merecer, não o vilipêndio, mas sim o respeito e o amor do povo moçambicano.

O meu apelo ao Partido FRELIMO, em especial ao Presidente Joaquim Alberto Chissano, a quem muito respeito e admiro, é que, neste mês em que celebramos o Acordo Geral de Paz, tendo cessado a guerra fratricida durante o seu mandato, haja um pouco de humanidade. É um momento oportuno para o Presidente Chissano dizer ao povo moçambicano a verdade sobre esses combatentes que foram mortos, de forma desumana e sem direito à defesa,  para evitar que o grande juiz chamado “tempo”  se encarregue de fazê-lo.

Muitos  países  africanos, incluindo a  África do Sul, Serra Leoa, Libéria, Gana e Ruanda,  estiveram envolvidos em processos de reconciliação nacional. A África do Sul, um país vizinho, com a sua Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC), é vista como um modelo para as sociedades que verdadeiramente desejam viver em paz. Segundo o Padre sul-africano Michael Lapsley,  a TRC “deu ao povo sul-africano uma enorme vantagem na cura nacional”. Angola, um país irmão, é também visto como um modelo para sociedades que desejam viver em paz. Foi com as seguintes palavras que o Presidente João Lourenço  pediu  desculpas  pelas execuções sumárias e excessos ocorridos após o alegado golpe “Nitista”:

“Viemos […] pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas e o perdão pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias […]. Este pedido público de desculpas e de perdão […] reflete o nosso sincero arrependimento […]. Com este gesto, as almas das vítimas de conflitos  políticos  terão a  paz  necessária  para  o  repouso  eterno.”

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  1. Mateus Pinho Gwenjere : Um Padre Revolucionário2ª Edição

Ano de Publicação : 2021

Editora : Produção Independente

Número de Páginas:575

Preço: 1 600 MTS

Disponível: Livraria Mabuko, Livraria Escolar Editora, Livraria Paulinas, Maputo e Livraria Fundza, Beira

2. O Seminário Católico de Zóbuè : Entre a Cruz e o Fuzil

Ano de Publicação : 2024

Editora : Produção Independente

Número de Páginas: 334

Preço: 1 400 MTS

Disponível: Livraria Mabuko, Livraria Escolar Editora, Livraria Paulinas, Maputo e Livraria Fundza, Beira

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