PARTE II
“Presidente Chapo defende a paz, a reconciliação e o diálogo inclusivo como pilares fundamentais para o desenvolvimento de Moçambique”.
Presidência da República de Moçambique em https://presidencia.gov.mz
“Não se pode falar de reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdias”.
Papa Francisco, na sua homilia no último dia da sua visita a Moçambique
Foto 1: Da esquerda para a direita: Marcelino dos Santos e Samora Machel, transformados em juízes, julgam e humilham aqueles que antes eram seus superiores, nomeadamente Paulo Gumane e Uria Simango,no Campo Militar da FRELIMO em Nachingwea, Tanzânia.
Foto 2: Samora Machel inspeciona nacionalistas moçambicanos detidos no Campo Militar da FRELIMO em Nachingwea, Tanzânia.
Após a Revolução dos Cravos de 1974 que derrubou o regime fascista e colonialista de Marcelo Caetano em Portugal, havia grandes expectativas de que a FRELIMO, como o maior movimento nacionalista moçambicano, procuraria se reconciliar com todos outros grupos e movimentos nacionalistas moçambicanos, unindo-os sob sua égide. Não foi, no entanto, o que aconteceu. Este movimento rejeitou veementemente eleições multipartidárias e qualquer forma de reconciliação com esses movimentos nacionalistas. Em vez disso, pressionou Portugal a transferir-lhe o poder, alegando que era “o único representante legítimo do povo moçambicano”.
Com o estabelecimento de um governo da FRELIMO em Moçambique, este movimento embarcou numa campanha sem precedentes de caça ao homem, mergulhando o país num banho de sangue. Contravendo as convenções internacionais, a FRELIMO sequestrava líderes nacionalistas de países africanos onde se encontravam exilados, levando-os para Moçambique para serem mortos. Foi o que aconteceu com líderes nacionalistas como o Padre Mateus Pinho Gwenjere, sequestrado no Quênia, e Reverendo Uria Simango, Paulo Gumane e Adelino Gwambe, sequestrados no Malawi.
Segundo O PÚBLICO MAGAZINE de 25 de Junho de 1995, os líderes nacionalistas moçambicanos, no Centro de Reeducação da M’telela na Província do Niassa, foram atirados para dentro de uma vala, regados com gasolina e queimados vivos:
“Na berma da estrada, os soldados tinham aberto […] uma grande vala e tinham-na enchido parcialmente de lenha. Amarraram os prisioneiros, atiraram-nos para dentro da vala e regaram-nos com gasolina, antes de lhes tocar fogo. Os prisioneiros políticos da Frelimo foram queimados vivos, enquanto os soldados entoavam hinos revolucionários em redor da vala.”
A história mundial demonstra, no entanto, que o direito dos povos de fazerem ouvir a sua voz nunca pode ser extinto. Sempre chega o momento em que as pessoas se cansam de ser pisoteadas e a tendência é de um líder carismático surgir para ajudar a resolver as dificuldades existentes. Assim, tal como aconteceu com o aparecimento do Padre Mateus Pinho Gwenjere que, antes da independência, interveio em nome do povo moçambicano, os excessos do governo da FRELIMO, após a independência, levaram ao surgimento de outros líderes carismáticos, nomeadamente André Matsangaíssa e Afonso Dhlakama, que, sob a égide da RENAMO, desafiaram o governo marxista da FRELIMO, pondo-o fim e aliviando, deste modo, o sofrimento do povo moçambicano.
Embora se tenha colocado fim ao governo marxista da FRELIMO, Moçambique encontra-se em guerras fratricidas por meio século. Enquanto isso, todos outros países vizinhos vivem em total paz. Não existe algo de errado com o povo moçambicano ou com a sua liderança?
A menos que o governo da Frelimo mude radicalmente de direcção, procurando sarar as “feridas vivas causadas durante tantos anos de discórdias” conforme destacado pelo Papa Francisco, e enveredando por uma reconciliação nacional, verdadeiramente genuína e inclusiva, para conquistar os corações e mentes do povo moçambicano, não haverá paz verdadeira e duradoura em Moçambique.
Para que haja uma paz sólida e duradoura, bem como uma reconciliação inclusiva e verdadeiramente genuína em Moçambique, o passado precisa ser publicamente abordado. O governo da Frelimo precisa oficialmente reconhecer os seus erros e abusos do passado. Conforme observado pelo Padre sul-africano Michael Lapsley, “procurar enterrar e esquecer as feridas do passado, nunca funcionou em nenhum lugar do mundo”.
Um verdadeiro processo de paz que visa promover uma reconciliação inclusiva e verdadeiramente genuína em Moçambique deve começar com:
- O reconhecimento oficial de que muitos nacionalistas e muitos outros moçambicanos foram mortos pela FRELIMO e seu governo de forma desumana e sem direito à defesa.
- Um pedido de desculpas a todas as vítimas e às suas famílias.
- A revelação dos locais onde esses moçambicanos foram enterrados para que os seus familiares possam obter suas ossadas para um enterro condigno.
Pedir desculpas a todas as vítimas e às suas famílias é um acto nobre. Grandes líderes pedem desculpas porque sabem que isso expressa arrependimento e é uma forma de demonstrar que não pretendem repetir os erros cometidos.
Um nobre gesto de desculpas foi recentemente demonstrado pelo presidente de um país irmão, Angola. Em nome do Estado angolano, o Presidente João Lourenço pediu publicamente desculpas e perdão às famílias enlutadas pelas execuções sumárias e excessos ocorridos após o alegado golpe “Nitista”. João Lourenço posteriormente entregou às respectivas familias as ossadas dos seus ente-queridos para um enterro condigno. Ele fez isso apesar de tais execuções sumárias não terem ocorrido durante o seu mandato.
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- Mateus Pinho Gwenjere : Um Padre Revolucionário, 2ª Edição
Ano de Publicação : 2021
Editora : Produção Independente
Número de Páginas:575
Preço: 1 600 MTS
Disponível: Livraria Mabuko, Livraria Escolar Editora, Livraria Paulinas, Maputo e Livraria Fundza, Beira
2. O Seminário Católico de Zóbuè : Entre a Cruz e o Fuzil
Ano de Publicação : 2024
Editora : Produção Independente
Número de Páginas: 334
Preço: 1 400 MTS
Disponível: Livraria Mabuko, Livraria Escolar Editora, Livraria Paulinas, Maputo e Livraria Fundza, Beira