RESUMO 1

Capítulos 1 a 8 de “O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil”

Mais de metade do livro “O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil” está escrito num estilo autobiográfico, conferindo maior credibilidade a muitos dos acontecimentos narrados. Nesta primeira parte, histórica, o livro aborda a chegada dos missionários católicos à Moçambique, bem como a sua colaboração com o Estado português, mantendo-se em silêncio sobre a escravatura e outras práticas contrárias à dignidade humana e incompatíveis com a justiça cristã.

O livro destaca o período da assinatura da Concordata e do Acordo Missionário, bem como a existência de duas correntes no seio da Igreja Católica – a “Igreja Católica Salazarista”, que era dominante e exigia obediência ao Estado Português, e a “Igreja Católica Profética”, de Dom Sebastião Soares de Resende, da Diocese da Beira, e, mais tarde, de Dom Manuel Vieira Pinto, da Diocese de Nampula, que defendia o direito do povo moçambicano à autodeterminação.

Esta primeira parte do livro aborda também o comportamento dos “Missionários da África”, que foram os primeiros docentes do Seminário de Zóbuè, construído por Dom Sebastião de Resende na actual Província de Tete, para formar jovens africanos para o sacerdócio. Para além de formarem estes jovens para o sacerdócio, estes missionários incutiam nas suas mentes as ideias de independência e um espírito nacionalista de luta pela liberdade. Ao mesmo tempo, ajudavam os seminaristas que abandonavam a vida sacerdotal a deixar Moçambique para se juntarem à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

O autor chama a atenção para o comportamento “antiportuguês” dos seminaristas de Zóbuè. No Seminário Maior da Namaacha, foram os seminaristas de Zóbuè que mais se destacaram como nacionalistas. De facto, foi devido ao seu comportamento “antiportuguês” que o Arcebispo de Lourenço Marques, Dom Custódio Alvim Pereira, promulgou 10 princípios que explicavam a posição da “Igreja Católica Colonial” em Moçambique. Em suma, os princípios estipulavam que a Igreja Católica rejeitava a teoria da independência para Moçambique e que os bispos não ordenariam seminaristas que representassem um problema para o governo colonial português.

O livro salienta que entre 1960 e 1970, um grande número de seminaristas de Zóbuè renunciou ao sacerdócio, tendo mais de 20 deles seguido para os Estados Unidos para frequentar o ensino superior e mais de 100 para a Tanzânia para se juntarem à FRELIMO. O livro nota igualmente que dos 945 alunos que ingressaram no Seminário de Zóbuè entre 1950 e 1975, apenas 18 foram ordenados sacerdotes, tendo sete ascendido às fileiras de bispo e arcebispo.

Exit mobile version