Capítulos 26 a 28 (último) de “O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil”

O destino muitas vezes reserva surpresas inesperadas: não foram os seminaristas que abandonaram a vida sacerdotal e que deixaram Moçambique rumo à Tanzânia para lutar pela independência nacional que mais saíram beneficiados na vida, mas sim, os seminaristas que, tendo abandonado a vida sacerdotal, optaram por permanecer em Moçambique. O Capítulo 26 descreve como o Presidente Joaquim Chissano viu a necessidade de recrutá-los para impulsionar um país que estava falido durante o mandato do Presidente Samora Machel. Ele teve que recorrer a esses ex-seminaristas tendo em conta que eram dos poucos negros instruídos que a FRELIMO herdou do regime colonial português. Neste Capítulo, este autor fornece nomes de mais de meia centena de ex-seminaristas que serviram o estado moçambicano.
Como mostra uma fotografia no livro, durante o primeiro governo da FRELIMO, o único ministro negro nomeado para representar o Centro e Norte de Moçambique foi Alberto Joaquim Chipande. O regionalismo Sul prevaleceu após a independência. Importa lembrar que foi durante os governos de Joaquim Chissano, Armando Guebuza e Filipe Jacinto Nyusi que houve um ligeiro equilíbrio regional na nomeação dos dirigentes moçambicanos. No Capítulo 27, este autor enfatiza que é do interesse do governo adoptar políticas que visem promover o equilíbrio regional e étnico nas mais altas instituições do Estado. Devido à diversidade étnica no país, a nomeação de ministros, bem como de outros membros do comité executivo do governo, deve, por lei, incorporar políticos de diferentes zonas do país bem como de diferentes grupos étnicos de forma a dar a cada cidadão moçambicano um sentido de pertença à nação. A menos que o governo faça isso, não será capaz de atingir os objectivos de boa governação. A sua atenção será desviada para gerir conflitos. Afinal, não é isso que acontece em Moçambique desde a independência? Conforme correctamente disse o antigo presidente queniano, Uhuru Kenyatta, os países africanos compram balas e armas não para lutar contra países inimigos, mas para matar membros do seu próprio povo que, alienados da sua nação perante as injustiças, optam por romper.
O Capítulo 28 (último)reforça o imperativo da boa governação. Durante uma visita de estudo a Província de Tete em 2013, este autor viu, diariamente, vários longos comboios totalizando seis ou mais por dia, transportando pó de carvão em vagões abertos para o Porto da Beira, sem qualquer cobertura, poluindo o ar e as machambas dos camponeses ao longo da linha férrea. A empresa brasileira “Vale” que explorava a mina na altura, vendeu-a à mineradora indiana, “Vulcan”, em 2021, depois de 15 anos de exploração. Já se passaram 20 anos e, até a presente data, os tetenses dizem que não sentem nenhum benefício da exploração da mina. Muito pelo contrário, a poluição do ar e da água está a matá-los lentamente. Os recursos naturais se transformam numa maldição quando os governantes não regulamentam a exploração de tais recursos em benefício da nação; quando os recursos são usados para beneficiar uma pequena elite governante; quando os governantes não impõem fortes padrões ambientais; e quando esses mesmos governantes não se preocupam em envolver as comunidades locais na tomada de decisões para regulamentar a exploração de tais recursos.
Este último Capítulo reforça ainda o imperativo duma reconciliação genuína e inclusiva. Esta deve começar de baixo para cima, com o reconhecimento de que existe a necessidade de sarar as “feridas não cicatrizadas do passado”. Conforme bem disse o Papa Francisco, no último dia da sua visita a Moçambique em 2019, “não se pode falar de reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdias”.
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𝐀𝐧𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐮𝐛𝐥𝐢𝐜𝐚çã𝐨 : 2024
𝐄𝐝𝐢𝐭𝐨𝐫𝐚 : Produção Independente
𝐏𝐫𝐞𝐟á𝐜𝐢𝐨 𝐝𝐞 : João M. Cabrita, autor de “Mozambique: The Tortuous Road To Democracy”(Moçambique : O Caminho Tortuoso para a Democracia) e “A Morte de Samora Machel”
𝐍ú𝐦𝐞𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝐏á𝐠𝐢𝐧𝐚𝐬: 334
𝐏𝐫𝐞ç𝐨: 1 400 MTS
𝐃𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧í𝐯𝐞𝐥: Livraria Mabuko, Livraria Escolar Editora, Livraria Paulinas, Maputo e Livraria Fundza, Beira
