Capítulos 9 e 10 de “O Seminário Católico de Zóbuè: entre a Cruz e o Fuzil”

O autor descreve o seu nascimento em Chindío, Mutarara, resultado do cruzamento entre pai Ngoni e mãe Sena. Embora tenha crescido a saber que pertence ao clã Phiri, identifica-se mais com a sua mãe e sua família. Em 1964, aos sete anos de idade, seguiu para Beira, onde seu pai trabalhava, para começar a frequentar a escola. Após concluir a terceira classe na Missão de São Benedito de Manga em 1964, o autor ingressou no Seminário Catolico de Zóbuè, na actual Província de Tete, onde jovens africanos das actuais províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia eram formados para o sacerdócio.
Pouco depois de chegar ao Seminário, aos 11 anos de idade, o autor quase foi expulso por ter lá ido sem ter sido baptizado. Considerou-se sortudo quando o Padre Reitor finalmente decidiu que seria baptizado no Seminário. Um amigo seu, que também involuntariamente quebrou um regulamento do Seminário – chegou ao Seminário com um dos dedos da sua mão esquerda deformado – foi expulso. Refira-se que um dos regulamentos do Seminário determinava que “alunos que tivessem deficiências naturais não seriam admitidos”. O autor descreve o cotidiano no Seminário, incluindo vários incidentes que o marcaram profundamente, como a punição que a sua turma recebeu quando um dos alunos despedaçou uma lagartixa com a sua inchada durante o trabalho manual. Foi no Seminário de Zóbuè que este autor foi moldado para se tornar um homem íntegro.
De 1950 a 1962, quando fundou o seu próprio Seminário, a actual província da Zambézia proporcionou mais de metade dos alunos do Seminário de Zóbuè. Zambézia foi a província que enviou o maior número de alunos para o Seminário Maior da Namaacha. Foi igualmente a província com um dos maiores números de ex-seminaristas que seguiram para os Estados Unidos da América e para a FRELIMO na Tanzânia. Onde é que estão todos esses ex-seminaristas?
Com excepção dos ex-seminaristas do Seminário Maior da Namaacha que seguiram para os Estados Unidos da América para prosseguir estudos superiores e para a Tanzânia para se juntarem à FRELIMO, este autor não conseguiu estabelecer o paradeiro de muitos dos seminaristas que desistiram da vida sacerdotal no Seminário Maior da Namaacha.
Com vista a melhorar a segunda edição do livro, este autor gostaria de apelar aos ex-seminaristas de Zóbuè que abandonaram a vida sacerdotal no Seminário Maior da Namaacha e, caso já não estejam vivos, aos seus familiares ou pessoas mais próximas para que partilhem com este autor a sua situação de vida após deixarem o Seminário Maior: que nível de educação finalmente atingiram e que cargos ocuparam tanto durante o período colonial como após a Independência de Moçambique. “O Seminário Católico de Zóbuè: entre a Cruz e o Fuzil” contém, no final, os nomes de todos alunos que ingressaram no Seminário de Zóbuè.
