QUEM FOI LÁZARO KAVANDAME?

Lázaro Kavandame ou Nkavandame, como o seu nome é por vezes escrito, foi secretário provincial da FRELIMO em Cabo Delgado. De etnia maconde, nasceu no planalto de Mueda em Cabo Delgado. O exacto ano do seu nascimento não é conhecido. Acredita-se que tenha nascido entre 1908 e 1912.

Este autor veio a conhecer Kavandame no Instituto Moçambicano quando apareceu na companhia do Presidente Mondlane para uma reunião com os estudantes em Fevereiro de 1968. Embora tivesse pouca instrução académica, ele era um líder político nato. Discursando perante o Comité de Descolonização das Nações Unidas em Nova Iorque em 25 de Março de 1965, Kavandame revelou que começou a sua actividade política na sua província natal, Cabo Delgado, em 1957. Durante aquele período colonial, ele distinguiu-se por organizar camponeses em cooperativas. A primeira cooperativa que ele fundou chamava-se Sociedade Algodoeira Voluntária de Moçambique que, até Julho de 1959, tinha 1 500 membros.

Lázaro Nkavandame
Fonte: Centro de Documentação Fotográfica. Maputo.

Lázaro Kavandame que gozava de grande apoio e respeito no seio da comunidade de refugiados de origem maconde em Tanzânia, desenvolveu um intenso trabalho de sensibilização para fortalecer e unir esses moçambicanos que eram representados pelo Baraza-la-Wazee (Conselho de Anciãos).

Assim que o Padre Mateus Gwenjere chegou a Dar-es-Salaam, aliou-se a ele para trazer reformas no movimento da FRELIMO. O trabalho de sensibilização e mobilização no seio do Baraza-la-Wazee era realizado em duas frentes: O Padre Gwenjere sensibilizava o grupo do Conselho de Anciãos em Dar-es-Salaam, liderado por Mzee (o Velho) Mchekecha, enquanto Nkavandame fazia o mesmo no seio do Conselho de Anciãos (Baraza-la-Wazee) na região de Mtwara no Sul da Tanzânia bem como em Cabo Delgado onde era Secretário Provincial.

Importa referir que o grupo Kavandame-Gwenjere boicotou o II Congresso da FRELIMO realizado em Matchedje, na província do Niassa, de 20 a 25 de Julho de 1968. Para além de boicotar o Congresso, o grupo não reconheceu os seus resultados e se recusou a aplicar as suas resoluções. Como se isso não bastasse, o grupo convocou a Reunião de Mtwara, durante a qual exigiu a renúncia do Dr. Eduardo Mondlane do cargo de presidente da FRELIMO:

“Temos nossos próprios comandantes e nossas próprias forças armadas. Nós não queremos o Presidente Mondlane. Queremos Uria Simango como nosso Presidente.”

Com o aumento do conflito entre o grupo Kavandame-Gwenjere e o grupo liderado por Dr. Mondlane, Lázaro Kavandame queria separar a Província de Cabo Delgado do resto de Moçambique. Conforme revelou o Presidente Chissano na sua entrevista exclusiva às “Memórias da Revolução de 1962-1972”, ele e os seus seguidores estabeleceram “comités de estrada” para impedir a entrada de forças leais à liderança do Dr. Mondlane na Província de Cabo Delgado.

Diante essa situação, o governo tanzaniano decidiu encerrar a fronteira com a Província de Cabo Delgado para impedir confrontações entre os dois grupos. Quando a fronteira foi reaberta dois meses depois, isto é, no final de 1968, a direcção da FRELIMO enviou à província de Cabo Delgado o Vice-Chefe das Operações da FRELIMO, Paulo Samuel Kankhomba, para realizar um trabalho organizacional naquela província. A caminho, Kankhomba foi interceptado por homens leais à Lazaro Nkavandame, que lhe pediram para regressar. Tendo desafiado a proibição de atravessar a fronteira para Cabo Delgado, ele foi esfaqueado, acabando por morrer aos 22 de Dezembro de 1968.

Tendo a FRELIMO alcançado vitória sobre o grupo Gwenjere-Kavandame, com o banimento do Padre para a região de Tabora, Lázaro Kavandame foi expulso do cargo de Secretário Provincial de Cabo Delgado, do cargo de membro do Comité Central da FRELIMO, bem como do cargo de membro da Comissão de Comércio da FRELIMO, após acusá-lo de se recusar a aceitar as decisões do Segundo Congresso da FRELIMO, de trabalhar contra a FRELIMO, e de usurpar as lojas do povo. Depois de removê-lo dos cargos acima mencionados, o Comité Executivo da FRELIMO expulsou-o do movimento.

Mesmo após a sua demoção e expulsão do movimento, a direcção da FRELIMO não conseguiu reduzir a sua influência no seio da comunidade maconde. Para derrotar o Mzee Lázaro Nkavandame, como era carinhosamente chamado, a liderança de Samora-Marcelino dos Santos aplicou a estratégia de cooptação. Esta estratégia consistiu em ganhar para o seu lado um grupo de jovens quadros militares macondes recrutados para o movimento da FRELIMO por Nkavandame.

Quando o Presidente Eduardo Mondlane foi assassinado em 3 de Fevereiro de 1969, a direcção da FRELIMO acusou Kavandame de estar envolvido no seu assassinato. Em 16 de Março de 1969, ele rendeu-se às autoridades portuguesas em Nangade, Cabo Delgado, após ter percebido que a nova direcção da FRELIMO havia conseguido cooptar quadros militares que lhe eram leais como forma de neutralizá-lo.

Após  a formação  do  governo  provisório  em  Moçambique, a principal preocupação do governo da FRELIMO foi de cercar, prender, e deter todos os líderes dissidentes. Os líderes da oposição detidos em Moçambique incluiram Lázaro Kavandame, que, como outros líderes dissidentes, foi enviado para o Campo de Reeducação da M´telela onde foi subsequentemente morto em circunstâncias que ainda não foram oficialmente esclarecidas.


As referências bibliográficas e notas finais deste artigo foram omitidas. Uma referência detalhada pode ser encontrada na segunda edição do livro “Mateus Pinho Gwenjere – Um Padre Revolucionário” a partir do qual este artigo foi extraído. O livro encontra-se à venda nas livrarias das cidades de Maputo e Beira.


Exit mobile version