Este sítio de “GUEST POST ( “Artigos de Opinião” dos leitores), o sítio de “COMENTÁRIOS“, bem como o sítio de “BOOK REVIEW ” (Resenha crítica”) do livro “Mateus Pinho Gwenjere – Um Padre Revolucionário”, foram criados para permitir que os leitores expressem suas opiniões sobre os nossos artigos, sobre artigos de outros leitores, bem como sobre vários temas relacionados com o estabelecimento da paz, reconciliação e boa governação em Moçambique.

Ao disponibilizar esses sítios, queremos incentivar os nossos leitores a escreverem artigos e comentários que visem enriquecer os temas apresentados neste blog. Críticas são bem-vindas, desde que sejam fundamentadas de forma a convencer o leitor de que lado reside a verdade.

Ao fornecer a informação contida nos nossos artigos, obtendo comentários sobre a mesma, esperamos que os moçambicanos terão uma melhor compreensão da história da luta de libertação nacional e dos conflitos internos no seio do movimento da FRELIMO. Isto permitir-lhes-á valorizar os esforços desenvolvidos pelos nacionalistas moçambicanos nessa luta, evitando assim que os erros do passado se repitam no futuro e garantindo subsequentemente paz e estabilidade duradouras em Moçambique.

É importante que as presentes e futuras gerações moçambicanas conheçam a verdadeira história de Moçambique. A história não se apaga, conforme bem disse o Presidente Angolano João Lourenço. Enquanto a necessidade de reconhecer os erros e os abusos do passado não for reconhecida, não pode haver paz verdadeira e duradoura em Moçambique.

Nosso regulamento: Caro leitor, contribua com o seu conhecimento para o bem-estar do martirizado povo moçambicano que nunca conheceu uma paz verdadeira e duradoura desde que Moçambique conquistou a independência há quase meio século. Leia, siga e partilhe esta informação para uma melhor compreensão da história da luta de libertação de Moçambique e dos conflitos internos no seio do movimento da FRELIMO.

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A BUSCA DA VERDADE

Por (Dr.) Chico Francisco

Lawe Laweki, também conhecido por João Baptista Truzão, trouxe a prelo em Agosto de 2021 a segunda edição da obra da sua lavra com o título ‘‘Mateus Pinho Gwenjere-Um Padre Revolucionário”.

O livro é um verdadeiro tributo a um sacerdote diocesano, que desde 1975, tem o nome gravado nos estúdios da Rádio bem como da Televisão e é entoado em cânticos revolucionários da época, apelidando-o de “reacionário” na companhia de outros nacionalistas que se haviam juntado à Frente de Libertação de Moçambique, enquanto movimento aglutinador de todos os que se opunham ao colonialismo português e ansiavam pela independência total e completa do seu País.

Várias gerações de jovens, hoje adultos, assim foram ensinados e por aí difundiram as melodias, mas que com o advento do livro ‘’Mateus Pinho Gwenjere-Um Padre Revolucionário” têm a grata oportunidade de conhecer o verdadeiro perfIl de um dos primeiros sacerdotes moçambicanos da Diocese da Beira e equipar-se de um farol para iluminar as mentes ainda ensombradas pela escuridão da ignorância.

Embora sacerdote diocesano, o Padre Mateus Pinho Gwenjere foi colocado em Murraça a coabitar com os Missionários de África, vulgarmente conhecidos por Padres Brancos, cujo carisma religioso os impele a trabalharem ao serviço dos pobres, excluídos, perseguidos, marginalizados, os que sofrem injustiças, os discriminados, os sem tecto em suma os que não têm nada. Esta coabitação entre o diocesano secular e o missionário de África afigura-se profícua, pois ela possibilita o convívio do Padre Mateus Pinho Gwenjere e o Padre Charles Pollet, um missionário belga com larga experiência de missionação em África.

Com o manancial de conhecimentos adquiridos e da experiência acumulada, o Padre Mateus Pinho Gwenjere constata que os seus paroquianos de Murraça estão constantemente sujeitos a sevícias pelas autoridades administrativas coloniais. No plano meramente missionário, o Padre Mateus Pinho Gwenjere sentia a pertinência de transmitir as palavras do Evangelho que a Bíblia ensina aos seguidores de Cristo na língua que a maioria do povo do lugar melhor fala e pode entender. Mas a lógica da autoridade eclesiástica reinante era de que as liturgias deveriam ser transmitidas na língua portuguesa que é a língua do colonizador, sem que nunca abrir espaço às línguas locais. Estas e outras iniciativas tomadas pelo Padre Mateus Pinho Gwenjere eram tidas por subversivas pela autoridade administrativa colonial.

Por acção dos Padres Pollet e Mateus, vários jovens de Murraça e missões católicas circunvizinhas foram enviados para se juntarem à FRELIMO em Dar-es- Salam. Chegou a ser iminente a ameaça de prisão do Padre Mateus Pinho Gwenjere e uma provável condenação e desterro para uma prisão em Portugal. Valeu-lhe a firme protecção dada pelo Bispo da Beira Dom Sebastião Soares de Resende.

O Padre Mateus Pinho Gwenjere fez opções certas tanto no plano sócio-cultural ao se insurgir contra a forma desumana com que as populações eram tratadas, o fraco investimento nas áreas de educação, saúde e inserção social bem como no uso da língua ,sena, na celebração da missa. Todavia apesar de toda a argumentação favorável às opções de vida do Padre Mateus Pinho Gwenjere, todo o ambiente se altera quando é noticiada a morte por doença do Bispo da Beira Dom Sebastião Soares de Resende a 25 de Janeiro de 1967. De seguida o Padre Charles Pollet é expulso de Moçambique, a PIDE endurece a sua vigilância e aumenta o risco de prisão efectiva do Padre Mateus Pinho Gwenjere.

Confrontado com este dilema, o Padre Mateus Pinho Gwenjere decide deixar Moçambique para se juntar aos moçambicanos agrupados na Tanzânia para lutar contra a administração colonial portuguesa no País, tendo em vista o alcance da independência de Moçambique.

Lawe Laweki conta que a chegada de Gwenjere na Tanzânia ocorreu em momento de grande alegria e efusiva comoção, bem como a viagem de Mateus Pinho Gwenjere à Nova york na companhia do Vice-Presidente Urias Timóteo Simango, onde o Padre expõe com detalhe a situação de cruel e hedionda violação dos Direitos Humanos pelo regime colonial português em Moçambique.  Tais actos foram largamente apreciados e angariaram mais simpatias à Frente de Libertação de Moçambique de várias organizações no Mundo.

Contudo, as clivagens na liderança da FRELIMO, a necessidade de realização do segundo Congresso, as mortes de Filipe Samuel Magaia, Paulo Samuel Kankomba e Mateus Sansão Muthemba e que culminariam com a morte do Presidente Eduardo Mondlane, o surgimento da nova liderança da FRELIMO, o período das execuções sumárias de líderes, membros influentes e demais militantes, eram questões que entristeciam a Gwenjere e corroíam a pureza dos objectivos da luta pela liberdade e independência.

Lawe Laweki apresenta este enredo sombrio com uma proposta de um novo exercício de reconciliação entre os moçambicanos, que vivem ciclicamente em guerras desde 1964 até ao presente, para que alcancem uma paz definitiva, assente não apenas nos acordos, que são facilmente violados, mas sim através da cura de memórias, um método apresentado e defendido pelo missionário neozelândes naturalizado sul-africano, Michael Lapsley, e que baseia a sua argumentação na estratégia da Comissão da Verdade e Reconciliação. Também em Angola foi criada uma Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos. O próprio Presidente de Angola João Lourenço pediu desculpas em nome do seu Partido pelos assassinatos e excessos cometidos na suposta “intentona Nitista” de 27 de Maio de 1977. Por outro lado, decorre de forma acelerada a identificação e entrega dos restos mortais aos familiares dos militantes então sumariamente executados.

Tanto num caso como noutro, o roteiro inclui um pedido de desculpas e entrega dos restos mortais aos familiares das vítimas para que lhes seja uma homenagem e enterro condigno dos seus restos mortais.

O imperativo da Paz genuína impele a que se coloque a cura de memórias, como roteiro indispensável para se libertar indivíduos, comunidades ou nações do veneno do ódio, da amargura ou do espírito de vingança para cicatrizar as feridas de conflitos e cultivar a tão desejada harmonia e concórdia capaz de impulsionar o almejado desenvolvimento e o bem-estar da sociedade.