“O Seminário Católico de Zóbuè – Entre a Cruz e o Fuzil”
Parte II


Discursando na ocasiao, o autor, Lawe Laweki, disse que o Seminário Católico de Zóbuè que este ano completa 75 anos da sua fundação se destacou na educação de jovens moçambicanos da Região Centro de Moçambique – actuais províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia – em três vertentes: na educação, na formação para o sacerdócio bem como na transformação desses seminaristas em nacionalistas moçambicanos.
Sobre a educação de jovens africanos da Região Centro, o autor enfatizou a importância da educação para o desenvolvimento de um pais citando o antigo presidente sul-africano, Nelson Mandela, que descreveu a educação como “a arma mais poderosa que os paises podem usar para mudar o mundo”. O autor citou igualmente antigos seminaristas de Zóbuè radicados nos Estados Unidos da América que escreveram o seguinte: “Moçambique precisa de educação para progredir”.
Para fundamentar o trabalho que o Seminário Católico de Zóbuè desenvolveu no ramo de educação, o autor disse que apresentou no seu livro uma lista de 35 ex-seminaristas que obtiveram educação superior antes da independência de Moçambique, contrariando a narrativa de que havia menos de uma dezena de moçambicanos com ensino superior na altura da independência.
Referindo-se aos ex-seminaristas que permaneceram em Moçambique após o “grande êxodo”, o autor disse que eles foram os mais beneficiados, uma vez que a FRELIMO, que tinha antagonizado a sua classe estudantil e os antigos seminaristas de Zóbuè que se juntaram a este movimento, precisava deles para impulsionar o país, uma vez que havia poucos outros quadros negros na altura da independência. Mais adiante, o autor disse que o seu livro fornece nomes de mais de meia centena desses ex-seminaristas, que permaneceram em Moçambique, que serviram o estado moçambicano como ministros, vice-ministros, deputados da Assembleia da República, embaixadores, governadores, PCAs, directores, e assim por diante. O autor disse igualmente que houve um ex-seminarista que foi membro do Conselho de Estado.
Sobre a formação para o sacerdócio dos alunos da Região Centro, o autor disse, mais adiante, que o Seminário Católico de Zóbuè produziu 18 sacerdotes entre 1964 e 1975. Seis desses sacerdotes são provenientes da Província de Sofala, seis da Província de Tete, cinco da Província da Zambézia, e um da Província de Maputo. Continuando, o autor disse que dos sete sacerdotes que ascenderam aos níveis de bispo e arcebispo, três são da Província de Sofala, dois da Província da Zambézia, e um da Província de Maputo.
Sobre a transformação dos seminaristas do Zóbuè em nacionalistas moçambicanos, o autor enfatizou que no Seminário Maior da Namaacha, na então Lourenço Marques (actual Maputo), foram os seminaristas de Zóbuè que mais se notabilizaran como nacionalistas. Discutiam entre si e com outros seminaristas mais próximos a evolução da situação política africana e assumiam uma postura que constituia uma afronta ao regime colonial português. Mais adiante, o autor disse que foi devido ao seu comportamento“anti-português” que o Arcebispo de Lourenço Marques, Dom Custódio Alvim Pereira, promulgou 10 princípios que, em suma, rejeitavam a teoria da independência para Moçambique. Mais adiante o autor disse que, como consequência, um grande número de seminaristas renunciou à vida sacerdotal, tendo alguns deles seguido para os Estados Unidos da América e outros para a Tanzânia. Entre 1962 e 1970, mais de uma centena desses seminaristas abandonaram a vida sacerdotal, seguindo para a Tanzânia para se juntar à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), disse o autor. Continuando, observou que, infelizmente, esses ex-seminaristas que se juntaram à FRELIMO foram antagonizados pela liderança deste movimento, tendo havido detenções, maus-tratos e assassinatos de alguns deles, bem como de outros nacionalistas moçambicanos.
Ao concluir, o autor prestou uma homenagem especial ao primeiro bispo da Diocese da Beira, Dom Sebastião Soares de Resende e aos “Missionários da África” mais conhecidos como “Padres Brancos”, que se destacaram na educação, formação para o sacerdócio, e transformação dos estudantes da Região Centro de Moçambique em nacionalistas moçambicanos. O autor louvou igualmente o presente bispo de Tete, Dom Diamantino Guapo Antunes, que, em tão pouco tempo, conseguiu reconstruir o Seminário Católico de Zóbuè e várias igrejas que se encontravam em ruínas e fechadas.
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𝐄𝐝𝐢𝐭𝐨𝐫𝐚 : Produção Independente
𝐏𝐫𝐞𝐟á𝐜𝐢𝐨 𝐝𝐞 : João M. Cabrita, autor de “Mozambique: The Tortuous Road To Democracy”(Moçambique : O Caminho Tortuoso para a Democracia) e “A Morte de Samora Machel”
𝐍ú𝐦𝐞𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝐏á𝐠𝐢𝐧𝐚𝐬: 334
𝐏𝐫𝐞ç𝐨: 1 400 MTS
𝐃𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧í𝐯𝐞𝐥: Livraria Mabuko, Livraria Escolar Editora, Livraria Paulinas, Maputo e Livraria Fundza, Beira
