Foi lançado na cidade da Beira em 24 de Outubro de 2025 “O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil”

PARTE III  (ÚLTIMA)

Legenda:
Foto 1: O autor, Lawe Laweki, proferindo seu discurso.

Foto 2: Dr. Samuel Simango proferindo seu discurso.

Foto 3: Presidente do Conselho Municipal da Beira, Dr. Albano Carige, felicitando o autor.

Foto 4: O autor, respondendo perguntas.

O Seminário Católico de Zóbuè – Entre a Cruz e o Fuzil” foi lançado na cidade da Beira em 24 de Outubro de 2025. No seu discurso, o autor, Lawe Laweki, começou por explicar o motivo que o levou a escrever este livro.

“Embora o Seminário Católico de Zóbué tenha se destacado em vários aspectos importantes, poucos moçambicanos têm conhecimento do papel que essa instituição desempenhou na formação de jovens africanos da Região Centro de Moçambique – actuais províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia – bem como na transformação de muitos jovens em nacionalistas moçambicanos. Segundo o autor, o facto de ter estudado nesse seminário, de ter presenciado eventos importantes durante o período que lá estudou e de ter escrito o livro num estilo autobiográfico, confere maior credibilidade a muitos dos acontecimentos narrados na obra.”

O autor referiu que os “Missionários da África”, mais conhecidos como “Padres Brancos”, recrutados pelo primeiro bispo da diocese da Beira, Dom Sebastião Soares de Resende,  para dirigir o Seminário de Zóbuè, para além de formar jovens africanos para o sacerdócio, incutiam nas suas mentes as ideias da independência e o espírito nacionalista de luta pela liberdade. Ao mesmo tempo, ajudavam seminaristas que abandonavam a vida sacerdotal a deixar Moçambique para ingressar na FRELIMO em Tanzânia.

Mais adiante, o autor referiu que, embora os ex-seminaristas que ingressaram na FRELIMO tivessem grandes expectativas em relação ao movimento, foram antagonizados pela sua liderança, e alguns deles foram mortos, numa altura em que reinavam no seio  do movimento conflitos étnicos e regionais bem como disputas pelo poder que levaram os nacionalistas moçambicanos a desperdiçarem muitas das suas energias lutando entre si.

Meio século após a independência, os moçambicanos continuam em guerra, no sofrimento e na miséria. O autor destacou a necessidade de o povo moçambicano compreender as verdadeiras causas desses contínuos conflitos e desse sofrimento persistente.

O autor referiu-se ao Papa Francisco que, no último dia da sua visita a Moçambique, em Agosto de 2019, procurou, em poucas palavras, encorajar o governo da FRELIMO a seguir o caminho da verdadeira reconciliação nacional para garantir a cura das “feridas causadas durante tantos anos de discórdias”, o que permitiria o povo moçambicano viver verdadeiramente em paz. O Papa Francisco disse o seguinte na sua homilia:

“𝘕ã𝘰 𝘴𝘦 𝘱𝘰𝘥𝘦 𝘧𝘢𝘭𝘢𝘳 𝘥𝘦 𝘳𝘦𝘤𝘰𝘯𝘤𝘪𝘭𝘪𝘢çã𝘰 𝘲𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘢𝘪𝘯𝘥𝘢 𝘦𝘴𝘵ã𝘰 𝘷𝘪𝘷𝘢𝘴 𝘢𝘴 𝘧𝘦𝘳𝘪𝘥𝘢𝘴 𝘤𝘢𝘶𝘴𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘶𝘳𝘢𝘯𝘵𝘦 𝘵𝘢𝘯𝘵𝘰𝘴 𝘢𝘯𝘰𝘴 𝘥𝘦 𝘥𝘪𝘴𝘤ó𝘳𝘥𝘪𝘢𝘴”.

No seu discurso, o autor afirmou que, sob essa linha de pensamento, um processo para uma reconciliação nacional, verdadeiramente genuína e inclusiva em Moçambique, deve começar de baixo para cima, procurando, antes de tudo, sarar “as feridas vivas causadas durante tantos anos de discórdias“, conforme bem destacou o Papa Francisco. Para curar as “feridas causadas durante tantos anos de discórdias“, a FRELIMO terá que seguir o seguinte caminho:

  1. Reconhecer a existência de conflitos não resolvidos do passado, durante a luta armada de libertação nacional e logo após a independência de Moçambique, que culminaram na detenção e execução, sem direito à defesa, de centenas de nacionalistas moçambicanos.
  2. Reconhecer os seus erros e abusos nos chamados “Centros de Reeducação” onde muitos moçambicanos foram enterrados e queimados vivos;
  3. Reconhecer as suas diversas violações dos direitos humanos cometidas, dia após dia, desde 1976 até a presente data.
  4. Por fim, apresentar um pedido de desculpas a todas as vítimas e às suas famílias, bem como  divulgar os locais onde esses moçambicanos foram enterrados para que possam receber um enterro condigno dos seus familiares.  

Ao concluir, o autor alertou que, enquanto essa via de reconciliação nacional não for devidamente reconhecida e respeitada, não poderá haver paz verdadeira e duradoura em Moçambique“: “As feridas vivas causadas durante tantos anos de discórdias”, tão correctamente destacadas pelo Papa Francisco, continuarão a assombrar Moçambique como nação.

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O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil

𝐀𝐧𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐮𝐛𝐥𝐢𝐜𝐚çã𝐨 : 2024

𝐄𝐝𝐢𝐭𝐨𝐫𝐚 : Produção Independente

𝐏𝐫𝐞𝐟á𝐜𝐢𝐨 𝐝𝐞 : João M. Cabrita, autor de “Mozambique: The Tortuous Road To Democracy”(Moçambique : O Caminho Tortuoso para a Democracia) e “A Morte de Samora Machel”

𝐍ú𝐦𝐞𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝐏á𝐠𝐢𝐧𝐚𝐬: 334

𝐏𝐫𝐞ç𝐨: 1 400 MTS

𝐃𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧í𝐯𝐞𝐥: Livraria Mabuko, Livraria Escolar Editora, Livraria Paulinas, Maputo e Livraria Fundza, Beira

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