Foi lançado na cidade da Beira em 24 de Outubro de 2025 “O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil”

PARTE I

“O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil” foi lançado na cidade da Beira em 24 de Outubro de 2025. Intervindo na ocasião, Sua Excelência  Reverendíssima o Bispo Auxiliar da Arquidiocese da Beira, Dom António Constantino, defendeu a necessidade de “revisitar o passado com serenidade” para que a verdade venha à tona, permitindo assim a cicatrização das feridas do passado. O livro contou com a apresentação do Dr. Samuel Simango, professor universitário e analista político, que abordou os pontos principais da obra.

“O Seminário Católico de Zóbuè: Entre a Cruz e o Fuzil” retrata a história da chegada dos missionários da Igreja Católica a Moçambique, bem como a subsequente formação para o sacerdócio de jovens africanos da Região Centro de Moçambique – actuais províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia – no Seminário Católico de Zóbuè, em Moatize, província de Tete, numa altura em que existiam duas posturas distintas dentro da Igreja Católica em Moçambique: A “Igreja Católica Salazarista”, que era dominante e reivindicava obediência ao Estado português, e a “Igreja Católica Profética” de Dom Sebastião Soares de Resende, da diocese da Beira, e, mais tarde, do Bispo Dom Manuel Vieira Pinto, da diocese de Nampula, que defendia o direito do povo moçambicano à autodeterminação (Capítulos 1 a 8).

Mais adiante, o livro realça o papel que a Igreja Católica Profética de Dom Sebastião Soares de Resende desempenhou na educação e conscientização política dos povos indígenas, bem como na mediação do conflito armado entre o governo da FRELIMO e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que resultou no Acordo Geral de Paz. Os “Missionários da África”, mais conhecidos como “Padres Brancos”, que o Bispo Dom Resende escolheu para dirigir o Seminário de Zóbuè, além de formar jovens moçambicanos para o sacerdócio, incutiam nas suas mentes as ideias de independência e um espírito nacionalista de luta pela liberdade. Ao mesmo tempo,  ajudavam seminaristas que abandonavam o sacerdócio a deixar Moçambique para se juntar à FRELIMO na Tanzânia. O livro não deixa, mesmo assim, de criticar a Igreja Católica como um todo, por ter se mantido em silêncio sobre a escravatura e outras práticas contrárias à dignidade humana e incompatíveis com a justiça cristã (Capitulos 9 a 16).

Dado que mais de uma centena de ex-seminaristas do Seminário Católico de Zóbuè  juntaram-se ao movimento da FRELIMO durante a luta armada de libertação de Moçambique, o livro aborda igualmente esta questão bem como o destino inesperado desses ex-seminaristas. Embora tivessem grandes expectativas em relação ao movimento da FRELIMO, foram antagonizados por sua liderança e alguns deles foram mortos, como foram igualmente mortos outros nacionalistas moçambicanos, numa altura em que reinavam no movimento conflitos étnicos e regionais bem como disputas pelo poder que levaram os nacionalistas moçambicanos a desperdiçar muitas das suas energias lutando entre si (Capitulos 17 a 25).

O destino muitas vezes reserva surpresas inesperadas: o autor nota no livro que enquanto os seminaristas que abandonaram a vida sacerdotal e deixaram Moçambique rumo à Tanzânia para se juntar a FRELIMO na luta pela independência nacional saíram prejudicados, os seminaristas que, na mesma época, abandonaram a vida sacerdotal e optaram por permanecer em Moçambique, sairam beneficiados. Por ironia da vida, a FRELIMO – que durante a luta armada antagonizou os seus estudantes bem como os ex-seminaristas de Zóbuè que se juntaram a este movimento – precisou desses ex-seminaristas que encontrou em Moçambique, pois eram dos poucos negros instruídos que este movimento herdou do regime colonial português. Quando o Presidente Joaquim Chissano assumiu o poder em1986, viu a necessidade de recrutá-los para impulsionar o  país  que estava falido durante a governação do Presidente Samora Machel. Para fundamentar este facto, o livro fornece nomes e missões de mais de meia centena desses ex-seminaristas que serviram ou ainda servem o Estado moçambicano (Capitulo 26).

Os recentes tumultos em Moçambique demonstram claramente que, se a classe governante deseja permanecer no poder com o apoio do povo, só poderá fazê-lo acomodando os seus anseios. O governo precisa dos imperativos da Integração Nacional, da boa governação e de uma reconciliação nacional verdadeiramente genuína e inclusiva. Como bem disse o antigo presidente queniano, Uhuru Kenyatta, os países africanos compram armas, não para se defenderem de ataques de países inimigos, mas para matar membros do seu próprio povo que, alienados da sua nação devido às injustiças e à má governação, optam por romper. Enquanto a necessidade de sarar as “feridas vivas causadas durante tantos anos de discordias”, conforme bem disse o Papa Francisco, não for respeitada; enquanto a necessidade de enveredar por boa governação e por uma reconciliação nacional verdadeiramente genuína e inclusiva não for devidamente reconhecida; não poderá haver paz verdadeira e duradoura em Moçambique. A atenção do governo será desviada para gerir conflitos. Afinal, não é isso que acontece em Moçambique desde que o país alcançou a sua independência, há meio século? (Capítulos 27 e 28).

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𝐀𝐧𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐮𝐛𝐥𝐢𝐜𝐚çã𝐨 : 2024

𝐄𝐝𝐢𝐭𝐨𝐫𝐚 : Produção Independente

𝐏𝐫𝐞𝐟á𝐜𝐢𝐨 𝐝𝐞 : João M. Cabrita, autor de “Mozambique: The Tortuous Road To Democracy”(Moçambique : O Caminho Tortuoso para a Democracia) e “A Morte de Samora Machel”

𝐍ú𝐦𝐞𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝐏á𝐠𝐢𝐧𝐚𝐬: 334

𝐏𝐫𝐞ç𝐨: 1 400 MTS

𝐃𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧í𝐯𝐞𝐥: Livraria Mabuko, Livraria Escolar Editora, Livraria Paulinas, Maputo e Livraria Fundza, Beira

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