ATÉ QUE PONTO OS MISSIONÁRIOS CATÓLICOS ESTIVERAM ENVOLVIDOS NA ESCRAVATURA?

Após o assassinato do Padre Gonçalo da Silveira no Reino de Mwene-Mutapa, os Padres Jesuítas pertencentes à Companhia de Jesus retiraram-se para Goa. Durante a sua retirada, os Padres da Ordem Dominicana preencheram a lacuna. Os Padres da Ordem Dominicana chegaram a Moçambique em 1577 a partir de Goa. Depois de construir um convento na Ilha de Moçambique, alargaram a sua área de actividade até Sofala, Sena, e Tete.

Anos mais tarde, os Padres Jesuítas voltaram para o Vale do Zambeze, tendo, entretanto, reduzido as suas actividades missionárias. Tanto os Padres Jesuítas como os Padres Dominicanos passaram a possuir vastas extensões de terra que administravam com mão de ferro, recolhendo impostos, da mesma forma como faziam outros “prazeiros”.

Quando a escravatura começou, esses Padres não a condenaram. Pelo contrário, envolveram-se nela, mantendo também escravos nos seus prazos e envolvendo-se no negócio quando essa prática abominável se tornou  um  negócio  lucrativo.

“Em termos de administração o seu (dos missionários jesuítas e dominicanos) modelo era em tudo semelhante aos prazeiros, dispondo de escravos para funções similares, como o comércio, policiamento, caça e guerra e tributando a atividade agrícola dos colonos livres que habitavam os seus terrenos […]. Exemplo desta faceta, mais comercial que missionária, é o (Padre) Dominicano Pedro da Trindade, conhecido em meados do século XVIII pelas suas várias minas de ouro, 30 mulheres e 1500 escravos!”

Conforme observou o Padre Mateus Pinho Gwenjere no seu depoimento nas Nações Unidas em 1967, enquanto para o Vaticano, o envio dos missionários católicos às novas “terras descobertas” deveria ser uma forma de expandir o Cristianismo para além das fronteiras Europeias; para os portugueses, era uma oportunidade para estabelecer e expandir o Império Português.   

Desde o período de Vasco da Gama à assinatura da Concordata em 1940, a história geral da Igreja Católica caracterizou-se por uma estreita associação entre a promoção do Cristianismo e a promoção do Império Português. As actividades da Igreja Católica durante este período confirmam as acusações de que a Igreja Católica era conivente com o regime opressor português.

Nas palavras do Bispo de Nampula, Dom Manuel Vieira Pinto, as relações Estado Português–Igreja Católica foram caracterizadas por uma colaboração activa que envolvia o seguinte: a Igreja Católica colaborava activamente com o regime colonial; concordava em propagar  a cultura portuguesa; pregava um evangelho de obediência dócil às autoridades portuguesas; permitia-se ser usada pelo regime colonial; e mantinha em silêncio os crimes e as injustiças do colonialismo que violavam os direitos fundamentais do povo moçambicano.


NB: Pode ler este e outros artigos relacionados no https://umpadrevolucionario.com

As referências bibliográficas e notas finais deste artigo foram omitidas. Uma referência detalhada pode ser encontrada na segunda edição do livro “Mateus Pinho Gwenjere – Um Padre Revolucionário” a partir do qual este artigo foi extraído. O livro encontra-se à venda nas livrarias das cidades de Maputo e Beira.