A HISTÓRIA DA FRELIMO REESCRITA: A “GUERRA PROLONGADA” NA LUTA DE LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE (Parte 2 de 2)

Evocando os Heróis de 25 de Setembro no 58º Aniversário da Luta de Libertação Nacional

O Secretário de Defesa e Segurança da FRELIMO, Filipe Samuel Magaia, pertencia ao grupo de oficiais militares da FRELIMO que acreditava que Moçambique só poderia ser libertado militarmente, uma vez que Portugal não queria negociar a independência deste país.  

No seu livro “Memórias de Um Guerrilheiro”, o General José Moiane escreveu que, durante a sua visita às zonas de combate na Província do Niassa, o grupo de oficiais militares da FRELIMO testemunhou a proeza militar do Comandante Filipe Samuel Magaia que não hesitava em colocar-se ele próprio e os seus combatentes na linha de fogo. Segundo Moiane, Magaia decidiu que deveria passar a data histórica de 25 de Setembro de 1966 em combate na Província do Niassa. Assim, na noite desta data, ele e um grupo de seus soldados efectuaram um ataque relâmpago contra as tropas portuguesas, deixando o exército colonial “desnorteado”.

A causa da rebelião estudantil no Instituto Moçambicano e no estrangeiro não foi só a introdução pelo Comité Central da FRELIMO de regulamentos estudantis radicais em Outubro de 1966, mas também o assassinato, no mesmo mês de Outubro, de Filipe Samuel Magaia, considerado pelos militantes da FRELIMO como um comandante militar corajoso que liderou heroicamente a guerra até à sua morte.

Assim, o seu assassinato por um dos oficiais militares que ele levou para as zonas de combate na Província do Niassa foi entendido como uma forma de retardar a guerra.

COMANDANTE FRANCISCO MAZUZE: PUNIDO POR CONTRARIAR A “GUERRA PROLONGADA”

Ainda segundo o General José Moiane, um dos comandantes da FRELIMO, de nome Francisco Mazuze, atacou a base de uma unidade das tropas portuguesas, depois do qual a ocupou. Quando essa tropa portuguesa tentou recuperar a base alguns dias depois, a mesma foi repelida pelo Pelotão de Mazuze, que ali permaneceu estacionado.

“Na 3ª tentativa, a tropa portuguesa foi concentrar as suas forças tendo usado uma táctica bem elaborada de avançar com as forças deixando as viaturas muito distantes da Base […]. O Comandante Mazuze quando sai para contra-atacar, cai na emboscada da tropa portuguesa que abriu o fogo atacando toda a Base e o Mazuze foi obrigado a abandonar a Base e com baixas de alguns camaradas e outros feridos. Assim o Mazuze tinha que ir justificar esta aventura no Comando da Companhia e dar esta informação ao Comando Nacional em Nachingueia, onde foi solicitado para se justificar. A Direcção do Comando Nacional não gostou da atitude de querer fazer uma guerra de posição com o inimigo […]. Depois de se chamar atenção, Mazuze volta de novo a Niassa para operar na zona […]. O seu regresso àquela região foi uma grande satisfação para a população que já estava a reivindicar o seu regresso. Reagindo, o Mazuze ataca um dos quarteis portugueses daquela zona e conseguiu assaltar. A tropa que estava nas trincheiras alvejou-lhe mortalmente com alguns camaradas e houve também alguns feridos.”

Para este autor, a última parte da história do General Moiane sobre a morte em combate do Comandante Francisco Mazuze não parece bem contada. O Comandante Mazuze, que se encontrava em prisão domiciliar no Campo Militar de Nachingwea para onde foi convocado, não teria sido solto e autorizado a regressar ao interior de Moçambique, sabendo-se que voltaria a contrariar as ordens da Direcção do Comando Nacional. O mais provável, após a sua soltura, e´que ele teria sido atribuído outras tarefas no território tanzaniano. Importa notar que, após a morte do Comandante Filipe Samuel Magaia, havia uma política bem estabelecida no movimento da FRELIMO de enviar combatentes indesejados para o interior de Moçambique, onde eram posteriormente abatidos, sob a alegação de que foram as tropas portuguesas que os abateram.


As referências bibliográficas e notas finais deste artigo foram omitidas. Uma referência detalhada pode ser encontrada na segunda edição do livro “Mateus Pinho Gwenjere – Um Padre Revolucionário” a partir do qual este artigo foi extraído. O livro encontra-se à venda nas livrarias das cidades de Maputo e Beira.


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